Quando
eu fui para lá, ele já trabalhava no local. E, de início, me assustou.
Barulhento, desajeitado, sempre correndo de um lado para outro. Aos
poucos percebi que, apesar desse jeito dele, não era realmente mau. O
medo foi diminuindo, deixei de fugir dele e me permiti aproximar um
pouco mais.
Desnecessário dizer que trabalhávamos no mesmo lugar.
Talvez interessante comentar as funções, totalmente diferentes, assim
como nós somos muito diferentes. Enquanto ele cuidava da segurança, eu
era uma das responsáveis pela alimentação de nossos empregadores. Mesmo
assim, eu nunca fui muito amiga de estranhos e, se fosse o caso, botava a
boca no trombone, fazendo o maior barulho. Ele me elogiava, sempre
dizia que meu jeito de ser ajudava muito no trabalho dele.
Desde que
passamos a nos aproximar, ele sempre foi cheio de atenções comigo.
Durante suas rondas, sempre vinha ver se eu estava bem. Ficava alerta a
qualquer coisa que eu dissesse, a qualquer barulho estranho que se
ouvisse no local onde eu estava... Até a comida dele, muitas vezes
deixou que eu comesse, pois percebia que eu estava com fome e que a
minha comida ainda demoraria um pouco mais...
E assim vivíamos. Trabalhando juntos, cada vez mais amigos... Até aquele dia...
Era
o começo da tarde, havíamos almoçado e tomávamos sol atrás do trabalho.
Era um dia tranqüilo de verão. Estávamos só nós dois. Ele começou com
umas conversas estranhas, falando de amor, de instinto animal... Eu,
boba, caí. E me entreguei a ele, deixando-o fazer de mim o que quisesse.
Foi
nesta hora que o patrão chegou. Morri de vergonha. Por sorte, o caso
não foi razão para que nenhum de nós fosse mandado embora, mas nunca
mais as coisas foram as mesmas.
Só que de vez em quando, eu ainda me pego suspirando por aquele cachorro...